sábado, 26 de abril de 2008

Aventura sobre o gelo

Texto e Fotos: Diego Sieg

A adrenalina ao sentir a neve fofa sob a prancha imprime nos olhos do atleta a expectativa da descida. “É uma sensação que mistura nervosismo e ansiedade, mas que aumenta, a cada segundo, a vontade de vencer”, descreve Felipe Motta, snow brasileiro, 1º colocado no ranking nacional e 2º sul-americano na categoria halfpipe. Velocidade, força e resistência. Isso é snowboarding!
Tradicional esporte de surf sobre o gelo, em que pessoas fixas a uma prancha de madeira traçam disputas de velocidade, saltos e manobras em diversas categorias e estilos. É praticado por atletas do mundo inteiro nos diversos países que possuem temporadas nevadas. Porém, é no Canadá, mais precisamente o famoso recanto de esqui “Whistler”, que grande parte dos snowboarders do mundo consideram como a “Casa do Snowboard”. A estação com os picos gêmeos, Whistler e Blackcomb, que possuem a maior queda vertical, com 1650 metros, atrae, todos os anos, milhares de turistas e praticantes de esportes de inverno para a temporada gelada.
Neste ano, as montanhas de Whistler já começaram a congelar e para celebrar a abertura oficial da temporada de inverno, aconteceu entre os dias 8 e 11 de dezembro, o “Snowboarding World Cup”, onde cerca de 190 competidores de mais de 20 países participaram das provas e, também, estiveram em preparação para os Jogos Olímpicos de Inverno 2006, que irão acontecer em Turim, na Itália.



Do snurfer ao snow

Foi com a criatividade de pegar uma prancha de madeira compensada e fixá-la a seus pés com uma cordinha de crina de cavalo que o norte-americano Jack Burchett, em 1929, fez nascer o primeiro snow. O invento se perdeu no tempo e só na década de 1960 outras idéias surgiram.
Em 1965, o norte-americano, Sherman Poppen, criou um brinquedo para seus filhos, que batizou de “snurfer”. A partir de dois esquis, fixos um ao outro, criou uma prancha e possibilitou muita diversão às crianças, que desciam, a toda velocidade, a pequena colina nevada localizada perto de sua casa, em Muskegon, no Michigan. Os snurfers fizeram um enorme sucesso e, na época, chegaram a ser vendidos cerca de um milhão de peças.
De lá para cá, a evolução das pranchas foi extrema e, hoje em dia, diversos modelos e materiais são utilizados para os mais variados estilos, manobras e categorias. Pode-se dizer, que o snow atingiu o seu profissionalismo na década de 1990, quando a maioria das estações de esqui passaram a aceitar a prática do esporte. Em decorrência disso, houve um crescimento do número de praticantes, o que levou o COI (Comitê Olímpico Internacional) a incluir o snowboarding como esporte olímpico. Sua estréia nos jogos foi em 1998, em Nagano, no Japão, e teve como vencedores o canadense Ross Rebagliati e a francesa Karine Ruby, no slalom gigante, que consiste em uma prova de velocidade, sendo a modalidade mais tradicional do esporte; e o suiço Gian Simmen e a alemã Nicola Thost, no halfpipe, que utiliza-se de um “meio tubo” inspirado nos skates, onde o atleta desliza entre as paredes para pegar velocidade e no ar executa diversas manobras que são avaliadas pelos juízes.




O que você precisa

Para praticar snowboarding é necessário, primeiramente, comprar ou alugar um equipamento. Os ítens são: botas, que devem ser confortáveis, mas que não permitam sobras aos pés; bindings, acessório para a fixação dos pés à prancha; e por último, um snowboard (prancha), tendo em mente a modalidade que se deseja praticar. Afinal, existem três tipos de pranchas e cada uma delas é apropriada, tanto em material como em desenho, aos diferentes segmentos do esporte. Pesquisar e praticar, em escolas especializadas, torna-se ideal antes de realizar a compra dos equipamentos.
A dica do snow brasileiro Felipe Motta, que há 13 anos pratica o esporte, é sempre usar capacete, pois para ele a segurança vem antes de tudo. “Ter um bom equipamento, pensar em segurança e se inscrever em uma escola com orientação adequada, é o fundamental para quem deseja ser um snowboarder. O resto vem com o tempo”, completa.

Modalidades e dicas

O snowboarding é um esporte que com o passar dos anos foi se desenvolvendo em várias categorias e formas de prática, sempre tendo em vista o tipo de neve e o objetivo dos competidores (corrida, saltos etc). “As modalidades mais reconhecidas são as de freestyle e freeride, que se subdividem em halfpipe, big air, slopestyle e powder, onde você anda livremente na neve virgem flutuando por cima como se fosse água”, aponta Felipe Motta, que em competições participa das provas de halfpipe, big air e slopestyle. “Nos Jogos Olímpicos de Inverno, além das provas de halfpipe e slalom gigante uma outra categoria disputada é a de boardercross, em que baterias de quatro atletas descem, ao mesmo tempo, uma montanha com obstáculos”, acrescenta Isabel Clark, snowboarder profissional, 1° colocada no ranking brasileiro.
Para quem pensa que a neve não tem influência em uma competição de snow, vai aí uma dica muito importante com relação a seus tipos e suas funções. Em uma estação de esqui é possível encontrar diferentes tipos de superfície de neve, dependendo da altitude, temperatura e número de pessoas que já a marcaram. Um bom competidor deve conhecer e saber lidar com todas as possibilidades.



Tipos de neve

A powder é aquela recém-caída, fresca, intocada, onde a sobreposição dos cristais e flocos de neve forma uma camada lisa e macia sobre as montanhas. É para muito dos snowboarders a melhor superfície pois permite maravilhosas condições para se tentar novas manobras, fazer curvas cavadas e controlar a velocidade. A modalidade powder teve daí a origem do seu nome.
A crud e a crust são a próxima fase depois do Powder, pois conforme os atletas passam sobre a neve fofa, forma-se pilhas em certas áreas e blocos compactos em outras, tornando-se, assim, mais dura e escorregadia. Esquiar sobre estes terrenos é um pouco mais difícil, mas o segredo é andar de forma mais agressiva mantendo os joelhos flexionados para absorverem os impactos.
A slush dá-se quando a temperatura sobe mais do que o ponto de solidificação da água e a neve começa a derreter, juntando muita água e grandes pedaços de gelo. Torna-se pesada e faz com que as curvas se tornem mais lentas, exigindo, assim, muita força do atleta para não perder velocidade.
O último tipo é a icy, onde a neve que já derreteu e congelou por diversas vezes forma uma superfície sólida, muito dura e escorregadia. É a mais temida e odiada neve pois torna-se muito difícil manter o controle e o equilíbrio, o que causa diversos acidentes. Algumas dicas para se aventurar, com segurança, neste tipo de neve é fazer movimentos sutís, nunca freiar bruscamente e não colocar muita pressão nas bordas da prancha.


A tradição canadense X despertar brasileiro

As diferenças climáticas e até mesmo culturais são muito grandes entre os dois países, mas não impediram que alguns jovens brasileiros viessem a praticar o esporte tão consagrado pelos campeões canadenses.
O snow, no Brasil, começou a ser praticado apenas na década de 90, e hoje, com menos de 15 anos, atletas já demonstram um grande desenvolvimento, mesmo com todas as dificuldades enfrentadas, pois afinal, o país não possui neve e para praticarem snow, os atletas têm de viajar para o Chile, Argentina e outros países gelados, ou utilizarem-se de equipamentos para fabricar neve. “Ter que sair do país para praticar o esporte é um dos nossos maiores desafios, ao lado da grande dificuldade em conseguirmos patrocínio financeiro”, comenta Isabel Clark, primeira brasileira a se classificar para uma Olimpíada de Inverno (Turim, 2006), que junto a nomes como os de André Cywinski, Felipe Motta e Riccardo Moruzzi começa a ganhar espaço entre os grandes do snow mundial da atualidade.
Os canadenses, por outro lado, já carregam a tradição do esporte há décadas e hoje têm uma das melhores equipes do mundo, com nomes como: Jasey-Jay Anderson, Drew Neilson e Dominique Maltais. A estrutura do esporte no país é de extrema qualidade, o que possibilita um dos melhores locais para treinamento e campeonatos. Isabel Clark, que por três temporadas chegou a ser instrutora de snow em Whistler, aponta “Participo, quase todos os anos, no mês de dezembro, da etapa da Copa do Mundo de Snowboard em Vancouver, e aproveito o restante do mês para realizar treinamento no país, que dispõe de uma estrutura formidável para todas as modalidades”. Felipe Motta, que tem o Canadá como seu segundo lar, analisa “O que mais me chama a atenção é a ousadia dos atletas canadenses, que sempre estão se arriscando pra acertar manobras cada vez mais difíceis e perigosas”.

Olimpíadas

A cidade de Vancouver, no Canadá, sediará os Jogos Olímpicos e Pára-Olímpicos de Inverno no ano de 2010.


PS: Matéria originalmente publicada na Revista Brasil X Canadá, no ano de 2005.

Um comentário:

Tati Domiciano disse...

Quem diria que esta foi a primeira matéria. Este é o Diego em sua melhor forma.