terça-feira, 22 de abril de 2008

para refletirmos

Vamos começar este blog com um assunto polêmico. Bom, desde o dia 29 de março não escutamos falar de outra coisa, senão da trágica e brutal morte da pequena Isabela, na cidade de São Paulo. O triste fato, hoje próximo de ser esclarecido, inundou a mídia e assim fez gerar um debate intenso na maioria dos lares brasileiros. Porém, por pressa de uns e língua-solta de outros, o acontecimento tomou proporções gigantescas e, em decorrência disso, um pré-julgamento em massa. Não venho aqui dizer que o pai e a madrasta são culpados ou inocentes. Pois afinal, acredito que caiba exclusivamente à justiça julgar os fatos, laudos e provas. Gostaria apenas que a população brasileira (principalmente a mídia) fizesse o mesmo e fosse um pouco mais ética e equilibrada em julgar e condenar as pessoas. Alias, no Brasil e no mundo já tivemos exemplos tristes de episódios semelhantes, como os da escola Base, da menina Madelaine, entre outros. Portanto, sejamos humildes em admitir a inocência dos outros até que a JUSTIÇA nos prove o contrário.

Para complementar este post, faço das palavras do jornalista Clóvis Rossi, em texto publicado hoje pela Folha de S. Paulo, as minhas palavras:


CLÓVIS ROSSI

Um certo gosto de sangue


SÃO PAULO - Duas ou três cartas sobre o caso Isabella me horrorizaram. Leitores aparentemente alfabetizados decretavam a culpa do pai e da madrasta da menina só com base nas informações que a polícia libera para o jornalismo. Jogam no lixo o devido processo legal, um dos principiais pilares da civilização.
Pensei que fosse reação restrita a exóticos de diferentes origens, atraídos pelos holofotes da TV, mas verifico, horrorizado, que há muito talibã solto por aí.
Na maioria das cartas, chovem críticas à mídia, apontada como única responsável pelo circo armado em torno do caso. Responsável, sim; única, não.
Sem que as autoridades -as ÚNICAS que detêm informações sobre o caso- alimentem o circo, não há circo, ou o circo é menos nefasto.
O pecado original é, portanto, do delegado, que, em vez de apenas investigar, atua simultânea e indevidamente como promotor, juiz e alto-falante, condenando o casal desde o início, antes mesmo das primeiras investigações. Se se pretende civilizar um país talibanizado, é preciso primeiro que a polícia se comporte com a discrição indispensável.
A polícia portuguesa, por exemplo, não acusou os pais no caso da menina inglesa Madeleine, muito parecido com o de Isabella. Quando o fez, a mídia foi atrás e teve que pedir desculpas publicamente, na primeira página, e ainda doar uma baita grana para um fundo criado pelos pais para procurar a filha. E o fizeram sem saber se os pais são de fato inocentes.
Quanto à mídia, não vejo nenhum capanga armado obrigando o telespectador (ou leitor) a ficar sintonizado nos programas policialescos ou, agora, no noticiário sobre a menina morta.
Há público -e grande- para isso. Alguns são apenas portadores da normal curiosidade humana. Outros têm gosto de sangue na alma, não nos iludamos.


Dica de leitura:

Livro: Os Irmãos Karamazov - Autor: Fiódor Dostoiévski - Literatura Russa

2 comentários:

Unknown disse...

Esse caso virou um circo, que com sua lona encobriu todas as outras mazelas do país. Daqui a pouco começa a temporada de eleições municipais, que irá atropelar esse caso como uma avalanche. Infelizmente o sensacionalismo tão combatido na acadêmia é a farinha de mandioca que engrossa e alimenta as bocas que precisam do mercado de trabalho.

Abraço
Daniel

Tati Domiciano disse...

Pão e circo. É disto que o povo brasileiro vive.