domingo, 25 de maio de 2008

Parece utópico, mas ainda me soa como possível...

Marcus Desimoni / UOL
Texto Daniel Faria

Reflexões


O feriado ponte é de Corpus Christi, porém o assunto mais comentado do final de semana não são os tapetes da procissão de quinta-feira passada, e sim a 12ª Edição da Parada do Orgulho Gay, que acontece na Avenida Paulista, em São Paulo.

O evento que foi antecipado em um mês pretende entrar mais uma vez para o livro dos recordes, como a maior marcha em defesa dos direitos dos homossexuais, bissexuais e transexuais do mundo.

DIREITOS E RELIGIÃO - O objetivo dos participantes é lutar por um Estado Laico de Fato, mas acho complexo falar em estado Laico, num país moldado e construído dentro dos princípios católicos apostólicos romanos. Mas a coisa parece que está caminhando, para quem corre atrás de seus direitos. É claro. Até porque como diria um ex-professor: “A justiça não protege o dorminhoco.”

Você pode até dizer que o que vale é a lei dos homens, mas o ranço do pecado, da devassidão, da Sodoma e Gomorra ainda está enraizado na cultura do brasileiro, que segue os dogmas cristãos. Esse sebo histórico é responsável inclusive pela difusão do preconceito e da homofobia.

Durante a visita do Papa Bento XVI, em maio do ano passado, o presidente Lulla reafirmou a importância do Estado Laico. Enquanto isso, o Papa pregava a castidade antes do casamento, além de condenar o uso de métodos anticonceptivos. Na contramão, o Ministério da Saúde fazendo seu papel de estado, lançava mais uma campanha de controle da natalidade (sou totalmente a favor).

Porém, a mesma Igreja que condena está envolvida em casos de pedofilia e de abusos sexuais cometidos por clérigos contra freqüentadores das comunidades cristãs. Enquanto ela recrimina e segrega, outras religiões e seitas incluem. Com isso, perde mais um número considerável de fieis que buscam conforto, em que os vê como indivíduos e não apenas como uma ovelha desgarrada ou temporariamente perdida nas trevas da pederastia.

PARADA – Os comentários que ouvi a respeito da parada estão longe da militância sugerida pelas campanhas de divulgação. Uns relatam o número de pessoas que beijou, outros os “amassos” e as passadas de mão que levou. Poucas falas defendem de fato a causa. Entre elas, a tão sonhada união entre pessoas do mesmo sexo. Como dizem por aí, os que gostam de generalizações: “Ninguém quer casar.” Então o que querem?

POLÊMICAS – Roubos, furtos, brigas e consumo em excesso de bebidas alcoólicas e outros tipos de drogas e entorpecentes estão entre os principais pontos negativos da muvuca, que se forma no trajeto em que acontece a parada. Imagino que deve ser complicado controlar a famosa “elza”, ainda mais no meio de tantas ofertas de consumo 0800.

OPINIÃO – A drag queen Nany People declarou num programa de TV, que não aceita convites para participar da parada e ainda classificou o evento como uma micareta, em que homens vestidos de general saem de suas cidades de origem, para virar rainha e aprontar todas na capital paulista e depois voltam para suas residências como se nada tivesse acontecido. A vida continua...

TURISMO - O fato é que a Parada Gay se tornou um evento do calendário oficial da cidade de São Paulo, que de tão rentável, foi tirada do gueto e promovida a patrimônio cultural do estado. Além de servir como plataforma política, fonte de renda informal, carnaval fora de época, evento de família e afins.

UTÓPIA – Se dentro do mundo capitalista existe o rico e o pobre e a miséria como personagem coadjuvante do acúmulo de riquezas, como acreditar no Estado Laico? Como construir uma sociedade que respire liberdade, igualdade e fraternidade? Como encarar as diferenças de escolha com naturalidade?

Parece utópico, mas ainda me soa como possível...

9 comentários:

diego sieg disse...

Eu acredito que a única maneira de se construir uma sociedade que respire liberdade, igualdade e fraternidade seja através de uma revolução pessoal dos indivíduos. Assim, uma espécie de anarquismo indivdual.

“Sou um amante fanático da liberdade, considerando-a como o único espaço onde podem crescer e desenvolver-se a inteligência, a dignidade e a felicidade dos homens; não esta liberdade formal, outorgada e regulamentada pelo Estado, mentira eterna que, em realidade, representa apenas o privilégio de alguns, apoiada na escravidão de todos; [...] só aceito uma única liberdade que possa ser realmente digna deste nome, a liberdade que consiste no pleno desenvolvimento de todas as potencialidades materiais, intelectuais e morais que se encontrem em estado latente em cada um [...]” (Michael Bakunin, Textos anarquistas, 2006, p. 36-37)


abraço

Tati Domiciano disse...

Adorei Daniel. Hoje, fui até à parada para ver as milhões de pessoas lutando por seus direito. Ao ver tanta gente pensei exatamente que todos estavam ali porque este era um dia livre de preconceitos. Amanhã cada um volta para sua cidade e lá ninguém vai saber o que houve por aqui. Também vi muita gente aproveitando uma balada ao livre e de graça... Mas que o dia da Parada do Orgulho Gay não perca seu conceito e se venda ao capitalismo...

Unknown disse...

Comentando Sieg: O interessante seria ver o resultado dessa MOVIMENTAÇÃO de cada individuo e seus beneficios para a nação.

Abraço

Unknown disse...

Comentando Tati: O que não pode acontecer é deixar pra pensar no assunto só na próxima parada. Manter a chama acessa e o foco na questão.

Beijos

diego sieg disse...

A Internet está aqui para nos provar isso e, acima de tudo, nos possibilitar isso. Neste território conseguimos exercer com liberdade nosso papel social. Um exemplo claro disso é este BLOG. Veja só, diversos pontos de vista, opiniões etc.

Nós, jornalistas, nunca conseguiríamos fazer isso em nenhum outro veículo de comunicação. O que nos falta agora é apenas expandir os limites deste nosso espaço, ganhar novos colaboradores e leitores. Uma transformação acaba nascendo de maneira involuntária. saca?


Aos poucos, pelo menos no ciberespaço, as pessoas tendem a revolucionar-se individualmente. É a aquele velha historinha: antes de mudar o mundo, mude o seu quarto, a sua casa, a sua rua... e por aqui (net) td é bem mais simples.

Afinal, e vc... já a começou a sua revolução??rs.


abraço

Tânia Carlos disse...

Já cheguei a questionar várias vezes a validade da Parada Gay enquanto defensora dos direitos GLBT. Sempre chego a conclusões diferentes porque sempre me aparece uma estatística ou um argumento novo.
Mas também acredito na revolução pessoal e interna de cada um, como o Diego. Acho que o individual é um bom passo para se chegar ao coletivo. :)

Unknown disse...

Respondendo Sieg: Faz tempinho que ando promovendo revoluções diárias no meu modo de agir, sentir e pensar. Pesando o que é importante e principalmente o que realmente vale a pena viver. Risos

Abraço

Unknown disse...

Comentando Tânia: Esse tema ainda é um tanto quanto místico. Risos

Beijos

Sheila Coutinho disse...

Bom, já que aqui todos visam a liberdade de expressão, acredito que não iriam me criticar pela minha, pois penso totalmente diferente. Acredito sim, na liberdade de expressão, mas o que eles procuram vai muito além de liberdade, eles têm sim liberdade, mas não podem querer que aceitemos, muito menos querer que a igreja aceite. Como o Daniel nos disse, e que não foge da realidade, é verdade sim que muitos que estão na igreja, e no auge da religião, tenham feito coisas absurdas, mas veja ao nosso redor, todos os dias, diversos tipos de pessoas fazem coisas erradas, só que os que estão dentro de uma religião são vistos mais facilmente, porque para os que não estão, tudo isso _coisas erradas_ é normal, mas para religiosos não. Bom, eu não acredito em religião, embora seje de uma, mas não a busco em si, busco os conhecimentos que me dá, pq por ela conheço mais a palavra, é ela que sigo, e todos a seguissem, acredito, imensurávelmente, que teriam a mesma opinião que eu, mas não busco que a tenham como tenho, apenas que não venham a querer aceitação e punição para os que não são a favor.
Obrigada.