terça-feira, 13 de maio de 2008

Pobrezinha da Isabel


Texto: Daniel Faria

IDÉIAS

No mês passado o Brasil comemorou seus 508 anos de “descobrimento”, e, hoje celebramos o 120º aniversário da Abolição da Escravidão. De acordo com os livros de história, desde 1888, não existem mais escravos no país.

Pobrezinha da Isabel, pois mal sabia ela, que várias outras formas de escravidão habitariam o gigante adormecido ao longo dos anos. Entre alguns exemplos, a prostituição infantil, da mulher e do próprio homem, o trabalho escravo nos vários segmentos da atividade econômica, no campo, na indústria até fora do país, pois, somos excelentes produtores de mão-de-obra para Europa, América do Norte e assim vai.

No centenário da abolição, em 1988, a Estação Primeira de Mangueira levou pra Sapucaí o enredo “Cem Anos de Liberdade, Realidade ou Ilusão”, em um dos trechos da obra composta pelo trio Hélio Turco, Jurandir e Alvinho, uma afirmação, que infelizmente reflete a realidade: “Pergunte ao criador, Quem pintou esta aquarela, Livre do açoite da senzala, Preso na miséria da favela.”

Criam-se mecanismos de inclusão para que todos tenham um lugar ao Sol. Com isso, cresce o assistencialismo, um leque de oportunidades, que arregala os olhos do terceiro setor. Para uns está tudo ótimo, para outros sobreviver à sombra do paternalismo é uma vantagem bastante recompensadora do ponto de vista das facilidades oferecidas e da lei do menor esforço.

Estabelecem-se cotas e nesse pacote todas as minorias são encaixotadas, ou melhor, viram fatias do mercado, clientes preferenciais de empresas de alta performance e visão estratégica de mercado, ou como queiram arrojadas e com uma missão, que só de ler nas placas que decoram a recepção, nos arranca lágrimas de emoção.

Meu único medo é que no futuro (amanhã ou daqui a 5 minutos) essa divisão do mundo, não nos obrigue a viver em quilombos modernos, com representações do líder Zumbi, em várias cores, preferências sexuais, ou religiosas. Até porque a intolerância em qualquer grau pode ser considerada como uma forma de cerceamento da liberdade, ou seja, uma escravidão maquiada, que atinge os seres humanos nessa complexa convivência em sociedade.

6 comentários:

Anônimo disse...

“Pergunte ao criador/ Quem pintou esta aquarela/ Livre do açoite da senzala/ Preso na miséria da favela.”

E estes eram os tempos em que a música brasileira era capaz de fazer uma crítica social profunda que, ao mesmo tempo, é sutil e não tem meio-termos.

Onde foi que isso se perdeu, hein?

Anônimo disse...

"A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil.
Ela espalhou por nossas vastas solidões uma grande suavidade; seu contato foi a primeira forma que recebeu a
natureza virgem do país e foi a que ele guardou; ela povoou-o como se fosse uma religião natural e viva,
com os seus mitos, suas legendas, seus encantamentos; insuflou-lhe sua alma infantil, suas tristezas sem pesar,
suas lágrimas sem amargor, seu silêncio sem concentração, suas alegrias sem causa, sua felicidade sem dia seguinte...
É ela o suspiro indefinível que exalam ao luar as nossas noites do norte."

Joaquim Nabuco

Tati Domiciano disse...

A cada dia eu me surpreendo com as discussões levantadas pelos colaboradores do Menta Rosa. Parabéns Daniel, pela sensibilidade e por ter colocado na pauta um tema tão importante.

Unknown disse...

Boi: Vou responder seu comentário num post. Tentarei falar um pouco sobre samba. Vamos ver o que sairá...risos

Unknown disse...

Mauro: Obrigado pelo comentário.

Unknown disse...

Tati: Eu é que agradeço por ter a chance de dividir esse espaço com você e os outros que estão porvir.
Beijos