segunda-feira, 12 de maio de 2008

Pelos trilhos do metrô

Texto: Tati Domiciano

Adoro circular pelos vagões do metrô de São Paulo. Já contei isso para alguns amigos. Desta vez revelo aqui no Menta Rosa. Ao mesmo tempo em que caímos na “mesmice” de passar pela catraca, subir e descer escadas rolantes, andar de metrô para mim é sempre surpreendente. Em outra época, dedicaria mais tempo ao tema.

Desta vez foi num domingo, por volta das sete da noite. À frieza típica do paulistano soma-se ainda o outono de São Paulo, com dias cinzas e temperaturas que beiram os 10 graus. Motivo de sobra para casacos, que escondem pessoas, e rostos debaixo de gorros de lã. Por aqui, tanto faz. Seja em dias de calor ou no inverno, o paulistano se refugia no metrô. Ninguém fala com ninguém. Os olhares são desviados. Os assentos “cinzas” – parece que a cidade elegeu essa como a cor símbolo – não são respeitados.

Cedi o meu lugar para um senhor com uma bebezinha no colo (e meu assento era marrom). Ele mal agradeceu. Tudo bem, as pessoas da capital não são como as do interior. De um lado, um jovem se acomoda, coloca os fones no ouvido, puxa o capuz para cima da cabeça e parece ser transportado para outro mundo. O que será que ele ouvia no mp3? Sempre tenho essa curiosidade. Na frente, um senhor de bigodes brancos e óculos pequenos demais para o tamanho de seu rosto lê o editorial de um jornal. À esquerda, uma senhora, que entrou toda esbaforida, toma seu lugar, tira os óculos Chanel de cima da cabeça, guarda na bolsa e espera a chegada da estação. Mais pra frente uma menina tenta arrastar sua mala entre as pessoas, que não se movem para nada. Mas a menina, em nenhum momento, pede uma “licencinha”. (Será que as pessoas perdem a fala quando dentro do metrô?)

Do outro lado, um homem de terno preto se acomoda perto da porta, bem embaixo do cartaz que pede para as pessoas que não atrapalhem a saída e a entrada dos usuários. Um menino passa e deixa com os passageiros um papelzinho retangular, onde se lê a mesma história de sempre: “é melhor pedir do que roubar, qualquer ajuda será aceita de bom grado”. Alguns poucos procuraram uma moeda. Alguns poucos se moveram e deixaram a posição de estátuas do metrô...

De repente, no monitor da TV – para quem ainda não sabe esta é uma novidade nos metrôs da capital— surge a pergunta: “Se no mundo existissem mais ‘você’ como ele seria?”. Você já parou para pensar nisso? Naquele momento eu fiz essa reflexão. Ao inverso. Imaginei como seria o mundo com mais senhores de bigode branco lendo o jornal. Com certeza, mais culto. Imaginei como seria o mundo com mais meninos de pés no chão distribuindo papeizinhos retangulares. Logo em seguida pensei em mais jovens fechados no seu mundinho envolvidos pelo som do mp3. Ops, acho que isso já acontece...

Depois de envolver as personagens que me acompanharam nesta curta viagem de metrô, pensei em mim. Como seria o mundo se existissem mais de “mim”... Feliz? Esperançoso? (sou corinthiana e daí? ... Humm, esqueçam essa parte, isso vai gerar mais discussão que o texto inteiro!!) Bem cuidado? Mais justo? Não sei.

Mais intrigante, com certeza.

E você? Já parou para pensar como o mundo seria se existissem mais de “você” circulando por aí? Melhor: vamos excluir o macro e pensar no micro, como pede meu cologa Boi no post "Reacionarismo Moderno". E se na sua cidade, no seu bairro, no seu trabalho existem mais de "você", como seria?

Para reflexões futuras e de acordo com a pauta, Niezstche:
“... escolham a boa solidão, a solidão livre, animosa e leve, que também lhes dá direito a continuar bons em algum sentido!”

10 comentários:

Unknown disse...

Oi Tati!

Meu adorei seu texto. Passei pelo mêtro no final de semana também. Na sexta quando cheguei um molequinho marrento e até meio grosseiro também distribuia aqueles papelzinhos pedindo ajuda. Uma das mulheres até comentou o fato de ele ser como ela intitulou "agressivo." Uma outra devolveu o papel pra ele com um pirulito. De fato a educação é algo que fica de lado, mas perante a pressa paulistana, a educação soa como um recurso de luxo. Exemplificando: Um dos porteiros do prédio no qual meu amigo mora em Sampa, nem olha na sua cara quando você o cumprimenta. Voltando ao tema mêtro, no sábado à noite voltei pra casa e tomei novamente a condução, estava com uma bolsa e uma mochila, mas ao ver uma garota tentando comer milho cozinho em pé, resolvi ceder o lugar pra ela, que gentilmente me agradeceu, enquanto, as mulheres que estava próximas me olhavam daquela forma clássica-paulistana.
São Paulo é assim, uma terra grande de gente estranha, que se vê, se observa, mas nem sempre nota sua presença ou rompe o silêncio, o que torna o simples ato de ser simpático um abismo. Porém, tenho recortes interessantes de passagens no mêtro também. Por fim, é um ambiente ambíguo e veloz.

Hasta!

Marilia Salla disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marilia Salla disse...

Tati, que lindo o seu texto. Lembro-me quando você tinha um sonho de escrever sobre o metrô. Quem sabe não vira um livro?
Seu texto me fez lembrar do feriado de Corpus Christi do ano passado. Eu e meu namorado resolvemos andar na Avenida Paulista no final da Parada Gay, só pra sentir aquele gostinho de caminhar no meio da rua, sem se preocupar com carros ou coisa parecida. Foi ótimo! O ruim foi retornar pro apartamento dos nossos amigos através do metrô e nos depararmos com uma muvuca de pessoas que voltavam da parada. Me senti uma formiga no meio de tanta gente diferente, que se espremia (pegar o metrô não foi o único motivo de tanta "agarração") pra chegar na porta do vagão. Mas ao mesmo tempo em que, assustada, obeservava tantas pessoas "variadas", livres de tabus, contentes e intensas, me sentia feliz ao poder constatar que, em algum lugar da cidade, mesmo subterrâneo, as pessoas podiam ser elas mesmas.

13 de Maio de 2008 12:42

Marilia Salla disse...

Ah! E acho que se o mundo tivesse mais "eus", seria....hum....perfeito! rsrs

Unknown disse...

Imagino que o mundo seria muito mais divertido.Um lugar onde as pessoas nunca ligariam para oq você veste,fala,pensa.Ou seja seria o mundo perfeito do Eduardo.
Parabéns Tati escreveu muito bem.

Anônimo disse...

Olá! Eu confesso que nunca fui um bom passageiro do metrô. Aquela velocidade toda sempre me dava medo de perder a estação e eu não aproveitei os recortes tão intensos que um olhar como o seu nos traz de uma viagem de metrô. Os paulistanos são de outro mundo, dormem e acordam na estação certa!

Dois comentários importantíssimos: Você e o boi corinthianos. Já começo em boa companhia.

Suas citações de Nietzsche são valiosas e muito bem colocadas.

Anônimo disse...

Se o mundo tivesse mais "eus", seria um arquipélago.

=D

[Maurão e Tati - esta que ainda não tive o prazer de conhecer -, muito bom saber que tenho companheiros "fieís" neste blog. Herera neles!]

Marilia Salla disse...

Corinthiaaaaaaa!!!!

diego sieg disse...

eu tenho certeza q ainda irei à tarde de autografos de algum livro da tatinha. rs... Espero que este livro seja tão bom qto este post. Adorei editora chefe! Parabéns...

vc e esta sua sutil maneira de observar o mundo!

Ah, a única coisa que te estraga é este amor furado pelo Curintia!!!rsrsrs. Credo, vc é mais do que isso!!!rsrs.

Foi proposital falar sobre o corinthians justo numa SEGUNDA-feira????rsrsrsrs

Tati Domiciano disse...

Gente!! Adorei cada comentário, obrigada!!

Dieguinho nerdinho essa é pra vc: "Aqui só tem bando de loco, loco por ti CORINTHIANS, eu canto pra ficar rouco, eu canto pra te empurrar...herreeeeerrrraaaaaaaa" hahahaha Vc quer que escreva um post sobre a emoção de ficar no estádio, bem do ladinho da fiel???

hahahaha, beijos pra todos!!!